Programas, que mesclam trabalho e educação, permitem que população entre 14 e 24 anos contribua com renda familiar e conclua estudos
Na próxima quarta-feira, 24, é celebrado o Dia Internacional do Jovem Trabalhador, ou Dia do Jovem Aprendiz. A data foi instituída pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para destacar a importância da inserção de jovens no mercado de trabalho, defendendo a valorização desse grupo geracional e a criação de oportunidades.
Segundo o último censo do IBGE, os jovens entre 14 e 24 anos representam 15% da população brasileira. Esse grupo enfrenta os desafios da conquista do primeiro emprego formal e, com isso, têm mais dificuldade em transpor as barreiras da vulnerabilidade social. De acordo com um levantamento da Fundação CDL-BH, braço social da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), no ano de 2023 foi registrado que dos mais de 1.300 jovens atendidos pela entidade, 19,64% estão em situação de alto risco social, tendo a renda per capita do núcleo familiar girando em torno de R$ 0,00 a R$ 529,00. Outros 28,12% estão em situação de risco social, com a renda per capita de R$ 529,51 até R$ 1.059,00.
“Muitos desses jovens e suas famílias vivem em um cenário de fragilidade econômica. Oferecer a eles uma oportunidade de trabalho é contribuir para uma mobilidade social que transforma realidades e minimiza a vulnerabilidade”, analisa o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.
Para romper os desafios deste cenário, a Lei do Aprendiz, ou Lei da Aprendizagem, promulgada nos anos 2000, facilita a inserção dos jovens e contribui, especialmente, para que eles obtenham uma formação profissional complementar à escola e possam se desenvolver profissional e pessoalmente. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), estabelecimentos de qualquer natureza, que tenham pelo menos sete empregados, são obrigados a contratar aprendizes, de acordo com o percentual exigido por lei (Art. 429 da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT)
“O trabalho de aprendiz permite que milhares de jovens, além do desenvolvimento profissional e educacional, também contribuam financeiramente com suas famílias”, afirma o presidente da Fundação CDL-BH, Vilson Mayrink.
Este é o caso da jovem aprendiz Giovanna Luiza, de 17 anos, que há oito meses atua no setor de comércio e serviços da empresa Valobras. “O que me fez buscar o trabalho de aprendiz foi a situação financeira delicada, pois precisava ajudar em casa e também pagar minhas contas. Tem sido um bom diferencial, pois já tenho conseguido ajudar com as contas e aliviar o bolso da minha mãe”, revela Giovanna.
Contudo, os benefícios da aprendizagem para Giovanna Luiza vão para além do financeiro. De acordo com a jovem, nesses oito meses de experiência tem sido possível compreender o funcionamento do mercado de trabalho e ampliar a convivência social. “Tem sido muito muito bom conviver com outras pessoas, especialmente com as mais velhas, elas me ensinam um comportamento profissional, que vai além da mentalidade de escola. Também consigo fazer melhores trabalhos e apresentações na escola com o que aprendo no trabalho”, afirma.
Ana Clara Apolinário, de 17 anos, tem vivido experiência semelhante à de Giovanna. Ela é aprendiz há dois anos na Holos, empresa do ramo de energia solar, e o trabalho tem sido fundamental para a saúde financeira da família e também para seu desenvolvimento profissional. “Contribuo em casa, pagando a conta de luz e comprando meus materiais para a faculdade de Enfermagem. Além disso, meus colegas de empresa sempre me apoiam a estudar e a seguir uma carreira profissional. Fui em busca do trabalho de aprendiz para desenvolver minha independência financeira e maturidade profissional, felizmente tenho conseguido ”, conta.
Ana Clara, que hoje cursa o ensino superior, concluiu o ensino médio no Colégio Tiradentes e após ser aprovada em terceiro lugar no vestibular e ser destaque no Enem com uma redação de 800 pontos, almeja levar para sua futura trajetória profissional os aprendizados adquiridos nessa experiência. “Como aprendiz me tornei uma pessoa mais organizada, mais produtiva e com mais autoconfiança. Espero ser uma ótima profissional da saúde e, com certeza, o que aprendi até aqui, irá me ajudar bastante”, afirma.
Incentivo aos estudos
De acordo com o presidente da Fundação CDL-BH, além da empregabilidade e do incremento da renda familiar, a Lei do Jovem Aprendiz combate a evasão escolar. “Uma das premissas da lei é que o jovem possa trabalhar sem ter sua vida escolar prejudicada ou abandonada. A formação educacional e a capacitação profissional são complementares e, na maioria dos casos, contribuem para que os jovens rompam o ciclo de vulnerabilidade social”, destaca Vilson Mayrink.
Como ser um aprendiz
Na capital mineira, uma das formas que os jovens têm para se tornar jovens aprendizes é por meio do Programa Educação e Trabalho (PET), promovido pela CDL-BH, que disponibiliza aprendizes a empresas parceiras. O programa técnico-profissional prevê a execução de atividades teóricas e práticas.
Os jovens possuem duas opções de contrato: 11 meses, com carga horária diária de seis horas e salário de R$ 995,08; 16 meses, com carga horária diária de quatro horas e salário de R$ 663,39.Os aprendizes selecionados podem atuar nos setores de Tecnologia da Informação, Comércio e Serviço, Logística e Auxiliar Administrativo. A rotina semanal é divida em quatro dias de atividades na empresa para aprendizagem prática e um dia na sede da Fundação CDL-BH, para conteúdo teórico. Dentro da carga horária teórica são trabalhados temas como economia financeira, marketing pessoal, saúde ocupacional, matemática, língua portuguesa, atividades culturais, informática básica, atividades voluntárias e conteúdos específicos para o desenvolvimento das tarefas do cargo (administrativo, Serviço e comércio, T.I. e Logística (almoxarifado).